Empreendedorismo de Mulheres: Reflexões e desafios no evento “As Vozes do Empreendedorismo Feminino”

Nos dias 22 e 23 de março de 2025, realizou-se o evento “As Vozes do Empreendedorismo Feminino”, no Templo da Poesia, em Oeiras, promovido pela organização-membro da Plataforma Portuguesa para os Direitos das Mulheres (PpDM), as Mulheres à Obra – Comunidade de Empreendedorismo Feminino. Durante dois dias de debates e partilhas, o encontro reuniu mulheres empreendedoras, ativistas e especialistas para discutir desafios, oportunidades e a construção de um ecossistema mais inclusivo e sustentável para o empreendedorismo de mulheres em Portugal.

A PpDM marcou presença no evento, destacando a importância de um olhar feminista e interseccional sobre o empreendedorismo. Paula Barros, Presidente da direção da PpDM, sublinhou a urgência de repensar o poder de decisão das mulheres como instrumento de emancipação, defendendo a criação de estruturas feministas que sustentem a autonomia e a capacidade de ação das mulheres empreendedoras.

No concreto, destacou a importância do trabalho da PpDM na promoção da autonomia financeira das mulheres, ligando-o às diretrizes da Declaração e Plataforma de Ação de Pequim, que em 2025 celebra 30 anos. Sublinhou que a igualdade económica entre mulheres e homens requer mais do que inspiração e motivação, exigindo políticas públicas eficazes, redes de apoio, formação, produção e preservação de conhecimento. A PpDM atua nestas áreas, promovendo mudanças estruturais para uma economia feminista, socialmente justa e sustentável. Além disso, reforçou que nenhuma mulher deveria ter de escolher entre a família e a sua carreira, defendendo a criação de condições concretas de conciliação entre a vida profissional e familiar, para que possam concretizar os seus projetos de vida.

Paula Barros salientou ainda que o sucesso nos negócios não depende apenas do esforço individual, mas está profundamente ligado às desigualdades estruturais que persistem na sociedade, nomeadamente com base no sexo, na classe e no estatuto migratório. Apontou a necessidade de considerar fatores interseccionais e contextos específicos que afetam diferentes grupos de mulheres, bem como a urgência de ampliar as consciências para prevenir e combater o sexismo. Finalizou com um apelo à participação ativa na luta pela igualdade entre mulheres e homens, incentivando as presentes a integrarem e fortalecerem redes de apoio e ação coletiva. [Comunicação]

De seguida, Ángela Garcia, da organização Make Mothers Matter, apresentou dados recentes do estudo State of Motherhood in Europe 2024. Os resultados evidenciaram a persistência de desigualdades estruturais entre os sexos, nomeadamente no acesso ao trabalho e rendimento, na ausência de políticas eficazes de conciliação e na invisibilidade do trabalho do cuidado. Estes dados reforçam a necessidade de políticas públicas mais eficazes que garantam condições justas para mulheres mães no mercado de trabalho.

O Vereador da Câmara de Oeiras, Armando Soares, destacou ainda a importância de envolver os homens na luta pela igualdade efetiva entre mulheres e homens, reconhecendo que a transformação social exige alianças e corresponsabilidade.

Para que o empreendedorismo das mulheres não seja apenas uma adaptação ou um nicho de mercado, mas uma ferramenta de justiça social e de emancipação feminista, torna-se essencial aprofundar o debate sobre novos modelos económicos, tecnologia e ética, impacto ambiental e saúde mental. O evento teve um impacto inspirador e fortaleceu redes de apoio entre mulheres, com um potencial transformador para integrar reflexões sobre as dinâmicas de género, a economia do cuidado e os desafios sociais e ambientais do empreendedorismo.

Assim, a PpDM continuará a defender um feminismo que não se limita a integrar as mulheres no mercado atual, mas que questiona e propõe alternativas para um mundo mais justo e sustentável para todas as pessoas.

Deixe um comentário