Comunicado PpDM: Até sempre, companheira! Nota de pesar pela morte de Maria Teresa Horta
A Plataforma Portuguesa para os Direitos das Mulheres (PpDM) manifesta o seu profundo pesar pelo falecimento de Maria Teresa Horta, resistente antifascista, escritora e feminista incontornável, cuja vida e obra marcaram de forma indelével a luta pela emancipação de todas as mulheres, pela concretização dos direitos que lhes assistem e pela liberdade em Portugal. Hoje, despedimo-nos de uma companheira, amiga e mulher cuja coragem e desobediência inspiraram gerações e continuarão a iluminar os caminhos de quem a sucede na construção de um mundo novo.
Maria Teresa Horta foi uma voz singular e insubmissa num tempo em que ousar escrever sobre o corpo, o desejo e o erotismo era um ato de desafio e resistência. A sua escrita, empenhadamente política, atravessou fronteiras e séculos, rompendo com tabus e denunciando injustiças. Como uma das três autoras das «Novas Cartas Portuguesas» (1972), enfrentou a censura e a repressão dos últimos anos da ditadura em Portugal. No seu conjunto, a sua obra, irreverente e profundamente comprometida com a causa das mulheres, desafiou as convenções e ampliou os horizontes da literatura e do pensamento político feminista em Portugal.
Foi jornalista, poeta, romancista e ensaísta, mas, acima de tudo, foi uma mulher livre. Jamais se calou, cedeu ou aceitou concessões. Antes e depois de Abril, defendeu, com coerência e determinação, os direitos das mulheres, denunciando a opressão machista e institucional, e reivindicando a plena cidadania para todas, ainda que com custos pessoais. Quando Agustina Bessa-Luís lhe pedia «Tente, Teresa, tente estar calada», corajosa e lúcida, respondia sem hesitação: «Não consigo, Agustina, não consigo.»¹ E ainda bem.
Ao longo da sua vida, Maria Teresa Horta enfrentou resistências e desprestígios. O reconhecimento da sua genialidade foi tardio, mas a sua influência perdura e cresce. A sua obra não é apenas um testemunho do passado, mas uma constante chamada à ação, à transformação e à insubmissão perante a prepotência e as desigualdades, em nome de uma emancipação pela qual lutou toda a vida.
A sua escrita permanece como um grito de liberdade e uma inspiração para todas aquelas que recusam a resignação. A sua morte é uma perda imensa para a literatura, para o movimento de mulheres em Portugal e para todas aquelas que acreditam que um mundo mais justo é possível. Mas a sua voz, a sua obra e o seu legado continuam vivos.
Hoje, despedimo-nos com tristeza da última das Três Marias. Não esquecemos o compromisso de manter viva a sua memória, de fazer ecoar as suas palavras e de continuar a sua luta. Porque, como escreveu em tempos, «não há nada que a nossa voz não abra / Nós somos as bruxas da palavra»².
Até sempre, companheira!
FOTO: Gonçalo Villaverde/Global Imagens
¹ Relato de Patrícia Reis, jornalista e autora da obra «A Desobediente» (2024), a biografia de Maria Teresa Horta, publicada pela Contraponto.
² Excerto do poema Anjos Mulheres – VI, disponível em: Anjos mulheres – VI – Portal da Literatura