Quebrar o Pacto de Silêncio: Solidariedade para com as sobreviventes de assédio sexual perpetrado por Boaventura de Sousa Santos

No próximo dia 15 de novembro de 2024, quatro mulheres irão a julgamento em Coimbra. Estas quatro mulheres integram o coletivo de vítimas que denunciou Boaventura de Sousa Santos por assédio sexual e moral. Em resposta, o Professor Catedrático Jubilado da Universidade de Coimbra intentou uma ação cível para tutela da personalidade, proteção da honra e bom nome.

Neste contexto, as associações de mulheres feministas reagem em apoio às sobreviventes.

A Plataforma Portuguesa para os Direitos das Mulheres (PpDM), e as suas 31 organizações-membros, sublinham que o assédio sexual é um fenómeno estrutural, fruto de uma desigualdade histórica entre mulheres e homens. É transversal a todas as esferas de interação, estruturas sociais e classes profissionais. A naturalização do assédio sexual e a tolerância social para com a violência contra as mulheres torna o assédio um “segredo muito público”: a esmagadora maioria das situações não é denunciada, ainda que muitas sejam amplamente conhecidas.

Nos últimos anos testemunhámos uma progressiva quebra deste “pacto de silêncio” social em vários domínios na sociedade portuguesa: foram mediatizados casos de assédio sexual nas universidades, no desporto, nas indústrias criativas, no audiovisual e nos partidos políticos. Só nas últimas 24h foram noticiadas denúncias de abuso sexual por parte de mulheres peregrinas nos Caminhos de Santiago, e cerca de oitenta denúncias de assédio sexual no contexto da indústria da música jazz em Portugal

A tendência para a progressiva desocultação do assédio sexual é acompanhada, com frequência, de um enorme risco para quem denuncia. O aumento dos processos por difamação na sequência das denúncias de violência sexual é uma realidade crescente, especialmente no contexto pós-#MeToo e com expressão internacional, como afirma o Relatório das Nações Unidas sobre promoção e proteção do direito à liberdade de expressão e opinião.

O silêncio é uma forma de cumplicidade.

Estamos solidárias com estas quatro mulheres que em breve estarão em julgamento

Estamos solidárias com todas as mulheres do Coletivo e com todas as sobreviventes

Estamos solidárias com todas as mulheres que foram e têm sido alvo de assédio sexual, e que por isso viram a sua liberdade cooptada por estruturas de opressão.

Por uma academia e sociedade livres de assédio sexual. Por uma sociedade livre de sexismo.

1 comentário em “Quebrar o Pacto de Silêncio: Solidariedade para com as sobreviventes de assédio sexual perpetrado por Boaventura de Sousa Santos”

  1. Quando era miúda, perguntei muitas vezes à minha mãe porque deveria fazer determinada coisa e os meus irmãos não. A resposta, deixava-me furiosa: porque eles são rapazes e tu és rapariga! Felizmente, tinha um grupo de amigas, onde éramos todas umas “revolucionárias”. Tenho, agora, 57 anos. Não podemos tolerar estes comportamentos e o mais importante: devemos proteger-nos umas às outras!

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