8M2022 | Comunicado à imprensa
8M2022 as mulheres querem Paz!
Vivemos tempos incertos e penosos, marcados pela crise pandémica da COVID-19 e suas consequências e por conflitos armados que se arrastam intoleravelmente, como o do Iémen, ou que eclodiram violentamente, como o da Ucrânia, e que agravam drasticamente as condições de vida das mulheres e das crianças. O Apelo à Paz na Europa lançado pela PpDM a 15 de fevereiro conta já com cerca de 400 subscrições de entidades e pessoas individuais.
Sabemos que mesmo fugindo de territórios em guerra, as mulheres e as crianças nem sempre encontram segurança no caminho que percorrem e na chegada aos países de acolhimento. As feministas ucranianas e de países vizinhos têm relatado o desaparecimento de mulheres e crianças que acabam nas mãos de grupos organizados de tráfico para fins de exploração sexual. Têm também relatado violações que ocorrem nos territórios ocupados pelas forças beligerantes externas.
- Violência
Os dados da ONU, em 2021, sobre a violência contra as mulheres e raparigas em países que se encontram em conflito armado são alarmantes:[i]
- 2.500 casos reportados de violência sexual contra mulheres e meninas relacionada com conflitos armados em 2020 em 18 países;
- Mais de 70% das partes suspeitas de cometer ou ser responsável por essas atrocidades estavam identificadas pela ONU há́ 5 ou mais anos sem que tenha sido tomada qualquer acção;
- A violência sexual contra crianças aumentou 70% em 2020 em comparação com 2019;
- No Iémen muitas mulheres grávidas não conseguem ter acesso seguro a cuidados médicos, e 1 mulher morre no parto a cada 2 horas;
- As mulheres constituem 52% dos 82,4 milhões de pessoas deslocadas em todo o Mundo, subindo para 56-57% no Sudão, Mali, Ucrânia e Chade; [ii]
- Mulheres e meninas são sequestradas ou traficadas, tanto por partes em conflito como por grupos criminosos organizados em cenários de conflito: globalmente, em cada 10 vítimas de tráfico, 5 são mulheres adultas e 2 são meninas.
A estes acrescem outros atentados aos direitos humanos das mulheres e das crianças, como o da gestação de substituição comercial. São públicas as notícias de casais portugueses que recorreram à gestação de substituição comercial na Ucrânia e agora nada sabem sobre o que aconteceu às mulheres gestantes.[iii] Sublinhamos: Os corpos das mulheres não podem ser comprados, seja em que contexto ou sob que circunstâncias!
- Tomada de decisão
Em 2022[iv] assinalam-se 22 anos da adoção da Resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas N.º 1325 sobre Mulheres, Paz e Segurança. Esta Resolução enquadra o impacto dos conflitos nas mulheres e crianças. Chama ainda a atenção para o papel das mulheres na prevenção, na resolução de conflitos, na construção e manutenção da paz. É uma resolução histórica que apela aos Governos que incluam as mulheres em todos os processos de paz e segurança, em particular ao nível da tomada de decisão.
Porém, a realidade tem sido outra:
- Globalmente as mulheres ocupam somente 25,5% dos assentos parlamentares (menos ainda, 19%, nos países em conflito e pós-conflito) e apenas 36% dos cargos eleitos a nível local (26% em países afetados por conflitos);[v]
- Em 2020 apenas 28,6% dos acordos de paz incluíam disposições relativas às mulheres e raparigas;[vi]
- Nas missões de paz das Nações Unidas, em 2020, as mulheres eram 5% das forças militares, 14% das unidades policiais formadas, 18% observadoras e funcionárias militares;[vii]
- Entre 1992 e 2019, as mulheres constituíram em média 13% das pessoas nas negociações, 6% actuaram como mediadoras e 6% como signatárias dos maiores processos de paz no Mundo.[viii]
8M2022 as mulheres querem ser ouvidas!
A ausência das mulheres nas tomadas de decisão tem necessariamente reflexos nas persistentes desigualdades, discriminações e violências que recaem sobre estas.
Em Portugal, apesar da (impropriamente designada) Lei da Paridade, verificamos que em 2022 o número de mulheres eleitas para o Parlamento baixou para 37,2%*, ou seja, abaixo do limiar de paridade (2019: 38,7%.) Significa um agravamento da disparidade entre mulheres e homens no processo de decisão legislativa nacional.
Num cenário marcado pelas consequências acrescidas da crise pandémica da COVID-19 sobre as mulheres e face ao cenário que se perspetiva de grave degradação das condições de vida de todas as mulheres e crianças decorrente do conflito na Europa, a Plataforma Portuguesa para os Direitos das Mulheres fez saber ao Secretário-geral do Partido Socialista, presumível primeiro-Ministro, a agenda que espera ver cumprida:
- Um Governo com uma composição paritária para que a visão, os direitos, as necessidades, e os interesses das mulheres logrem a representação a que têm direito e também pelo seu simbolismo pedagógico num País em que todos os dias as mulheres se confrontam com discriminações estruturais que resultam em femicídio, violência sexista, empobrecimento e desrespeito pelos seus direitos;
- Institucionalização de um Ministério para a Promoção da Igualdade entre Mulheres e Homens – estamos face a uma oportunidade excecional de conjugação rara de condições favoráveis de uma maioria partidária no Parlamento e de um pacote financeiro substancial. Esta será uma resposta política consequente, efetiva, transformadora, e por isso com autonomia para intervenções consistentes quer de ação positiva quer de transversalidade, com poder político e financeiro, com tempo e recursos adequados a uma dedicação exclusiva e com visibilidade permanente junto da opinião pública;
- Integração efetiva da igualdade entre mulheres e homens na repartição dos recursos financeiros do Estado: OE2022, PRR e próximo período de programação dos Fundos Estruturais;
- Reforço das políticas públicas que visam eliminar todas as formas de violência masculina contra as mulheres e raparigas; tendo em particular consideração os tempos em que vivemos, será relevante um esforço acrescido no combate ao tráfico de mulheres e crianças para fins de exploração sexual, associado a políticas públicas que visem apoiar a saída das mulheres do sistema de prostituição – a prostituição é indissociável do tráfico de seres humanos;
- Reforço do financiamento público às associações de mulheres: muitas destas associações prestam serviços essenciais à Paz e inerente coesão social, apoiando sobreviventes da violência masculina.
8M2022 as mulheres querem a ratificação da Convenção de Istambul pela UE!
De acordo com a informação de que dispomos, é provável que a Comissão Europeia publique a 8 de março a Diretiva Europeia sobre a violência contra as mulheres e a violência doméstica. Uma ação relevante para garantir (alguma) segurança às mulheres e raparigas. Espera-se agora que a UE seja mais arrojada e ratifique a Convenção de Istambul! Trata-se de um reforço importante para sustentação legal de medidas suplementares imprescindíveis para a eliminação de todas as formas de violência masculina contra as mulheres e raparigas.
Descarregue o comunicado à imprensa. Conheça as várias as iniciativas da PpDM e das suas organizações-membros em torno do Dia Internacional das Mulheres #DIM2022 aqui.
[i] Fonte: Women, peace and security. Report of the Secretary-General. 27 setembro 2021.
[ii] Sendo expectável que em 2022 os números sejam certamente alterados, em particular os relativos à Ucrânia, devido à imposição da Lei Marcial.
[iii] Público, 03.03.2022 “Casais portugueses com problemas para resgatar bebés nascidos de barrigas de aluguer na Ucrânia”
[iv] Outubro de 2022
[v] Fonte: Ibidem.
[vi] Fonte: Ibidem.
[vii] Fonte: Ibidem.
[viii] Fonte: Council of Foreign Affairs, Women in Peace Processes.
*A composição final do Parlamento dependerá ainda da formação do novo Governo e dos resultados das eleições do círculo eleitoral da Europa.