Ser mãe em Portugal continua a ser um desafio: novos dados europeus mostram lacunas urgentes a colmatar
Um estudo recente State of Motherhood in Europe 2024 da organização internacional Make Mothers Matter (MMM), entidade de que a nossa organização membro Mulheres à Obra é parte, — traz à luz dados preocupantes sobre a realidade da maternidade em Portugal e na Europa. O levantamento, que ouviu 9.600 mães em 12 países europeus, incluindo 800 em Portugal, revela que a experiência de ser mãe continua marcada por sobrecarga, desigualdade e falta de apoio adequado, apesar de avanços legislativos a nível europeu.

Saúde mental materna em alerta
Em Portugal, 81% das mães declaram sentir-se mentalmente sobrecarregadas (acima da média europeia de 67%). Além disso, 47% relatam problemas de saúde mental, sendo a ansiedade a mais comum (36%). Muitas mães descrevem a ausência de apoio especializado e a dificuldade em conciliar cuidados pessoais com as exigências familiares e profissionais.
Estes números sublinham a urgência de investir em serviços de saúde mental acessíveis, próximos das comunidades e preparados para apoiar mulheres no pós-parto, tal como recomenda a MMM.
Carreira profissional afetada pela maternidade
Embora 85% das mães portuguesas trabalhem, a chegada de filhas e filhos impacta profundamente as suas trajetórias profissionais.
13% reduziram o horário de trabalho e 36% mudaram o seu estatuto laboral após serem mães.
Apenas 37% beneficiaram de regresso gradual ao trabalho e 22% tiveram acesso ao teletrabalho.
Estas condições dificultam a progressão de carreira e contribuem para desigualdades salariais e insegurança económica, perpetuando a chamada “penalização da maternidade”.
Carga doméstica e cuidados continuam desiguais
Apesar de estarmos em 2025, as mães assumem até 73% das tarefas domésticas e de cuidado, mesmo quando trabalham fora de casa. Apenas 16% dos pais tiraram a totalidade da licença de paternidade a que tinham direito, revelando que a partilha de responsabilidades familiares permanece frágil.
Licenças e apoios ainda insuficientes
Em Portugal, quase metade das mães (49%) considera curta a duração da licença de maternidade e 54% estão insatisfeitas com os subsídios recebidos nesse período. A falta de soluções acessíveis de educação e cuidados para crianças em idade pré-escolar continua a pressionar as famílias e, sobretudo, as mulheres.
Recomendações
A MMM e a PpDM sublinham a necessidade de políticas públicas e práticas laborais mais amigas das famílias, incluindo:
Reforço do apoio à saúde mental materna no período pós-parto e ao longo da infância.
Garantia de proteção contra discriminação no trabalho relacionada com a maternidade.
Expansão de licenças parentais mais longas, flexíveis e bem remuneradas, com maior envolvimento dos pais.
Investimento em creches e soluções de cuidados infantis acessíveis e de qualidade.
Reconhecimento e valorização do trabalho não pago do cuidado, essencial para o bem-estar social.
Leia as nossas propostas em Por um Pacto do Cuidado: Recomendações para políticas públicas.
Assista aos webinários:
Transformar o modo como vivemos: o uso do tempo, o cuidado e a vida. Com Maria Angeles Durán
Direito universal ao cuidado. Dever universal de cuidar. Com Maria do Céu da Cunha Rêgo
Um apelo à ação coletiva
A maternidade é um pilar do futuro e do progresso social e económico. No entanto, os dados mostram que as mães em Portugal continuam a enfrentar obstáculos que impactam a sua saúde, a sua autonomia financeira e a igualdade entre mulheres e homens.
É urgente que governos, empresas e sociedade avancem para políticas que protejam as mães, promovam a corresponsabilidade e valorizem o cuidado como trabalho vital.