Maria Barroso (1925-2015)
Maria Barroso partiu esta madrugada depois de nos conceder uns dias para nos “prepararmos” para um desfecho sombrio e triste de um acidente que parecia ter sido irrelevante e acabou por se revelar fatal.
Maria Barroso foi uma Cidadã em todas as dimensões que o ser cidadã comporta. Travou combate pela liberdade, pelos direitos humanos e pela justiça social sem desfalecimento e também sem nunca perder de vista a perspectiva dos direitos humanos das mulheres e da igualdade de mulheres e homens. Foi pioneira em muitos aspectos da sua vida cívica e teve visibilidade, projecção e distinções mas usava-as para apoiar as causas em que acreditava e pelas quais lutou com coragem, coerência e perseverança.
Companheira de muitas décadas de uma personalidade politica com a dimensão de Mário Soares, nunca seguiu na sua sombra, pelo contrário brilhou com luz própria, escolhendo e trilhando um percurso autónomo marcado pela sua individualidade, pelas suas próprias ideias e pelas suas próprias causas.
É comum dizer-se que ficamos mais pobres quando parte alguém com a notabilidade de Maria Barroso, e com a sua partida perdemos de facto uma personalidade que desempenhou um papel central no nosso País no fim do século passado e no início deste, mas perdemos principalmente uma energia inspiradora e uma generosidade militante incomuns. Muitas das causas que defendia, e que eram causas nossas também, perderam assim uma voz autorizada e escutada e nessa medida a frase comum justifica-se plenamente: ficámos mesmo muito mais pobres colectivamente com a partida de Maria Barroso.
Travou inúmeros combates, desempenhou múltiplos papéis e assumiu vastas responsabilidades que não saberíamos aqui enumerar exaustivamente, recordamos apenas que esteve também presente no combate por uma verdadeira democracia, tendo sido uma das subscritoras da primeira declaração pública pela paridade na vida política (in jornal Público de 3 de Março de 1999). Do palco ou da plateia, onde quer que o seu empenhamento cívico a levasse, intervinha sempre com grande perspicácia politica acrescentando valor ao debate e sublinhando com a sua presença a importância do tema em discussão, como foi sempre o caso quando chamava a atenção para a disparidade mulheres-homens no poder e na tomada de decisão.
Ia escrever, como se deve, descanse em paz mas não sei se Maria Barroso estará disponível para simplesmente descansar em paz, prefiro por isso escrever: que a sua memória perdure e nos transmita a coragem e a energia necessária para perseverarmos no combate pelos direitos e pela igualdade porque a estrada que temos pela frente ainda é longa e áspera.