EUA aborto: os nossos direitos são sempre os primeiros a ser atingidos
Solidariedade com as mulheres dos EUA.
No ano em que em Portugal se comemora os 15 anos do referendo que despenalizou a interrupção voluntária da gravidez (IVG) até às 10 semanas por opção da mulher, nos EUA o Supremo Tribunal revogou a proteção do direito ao aborto que vigorava no país desde 1973 (conhecida como Roe vs. Wade). A partir de agora, fica ao “critério” de cada Estado federal o poder de autorizar ou não o aborto. E fica à sorte de cada mulher residir num estado que o permita, ou não.
Bem sabemos que os direitos das mulheres nunca estão assegurados. Em qualquer momento podem ser ou são mesmo revogados, seja pelos sistemas políticos ou de justiça.
Este é mais um tremendo retrocesso nos direitos das mulheres. Importa ter sempre presente:
E morreu, por fazer um aborto com um pé de salsa, morreu de septicemia, a mulher-a-dias que limpava o escritório onde trabalho, e soube depois, pela sua colega, que era o seu vigésimo terceiro aborto. E contou-me, há anos, uma amiga minha, médica, que no banco do hospital eram tratadas com desprezo as mulheres que entravam com os seus úteros furados, rotos, escangalhados por tentativas de abortos caseiros, com agulhas de tricot, paus, talos de couve, tudo o que de penetrante e contundente estivesse à mão, e que lhes eram feitas raspagens de útero a frio, sem anestesia, e com gosto sádico, “para elas aprenderem”. Aprenderem o quê, com um raio?! Aprenderem que sobre elas cai, mascarada de fatalidade do destino, a contradição que a sociedade criou entre a fecundidade-exigida-do ventre da mulher e o lugar-negado-para as crianças? Novas Cartas Portuguesas, de Maria Isabel Barreno, Maria Velho da Costa e Maria Teresa Horta
Ainda ontem o Economist escrevia: “New Portuguese Letters” was published in 1972. A section on abortion might profitably be read by American Judges today“….
Excelente lembrança! Estamos sempre sob a ameaça de um regresso ao passado…