Decisão histórica do Conselho sobre a adesão da UE à Convenção de Istambul!

Finalmente foi dado um passo em frente para acabar com a violência contra as mulheres e as raparigas na Europa!

A Plataforma Portuguesa para os Direitos das Mulheres (PpDM), coordenação nacional do Lobby Europeu das Mulheres (LEM), e o LEM congratulam-se com a decisão do Conselho de avançar para a ratificação pela UE da Convenção do Conselho da Europa para a Prevenção e o Combate à Violência contra as Mulheres e a Violência Doméstica, a Convenção de Istambul.

Fez-se história para as mulheres na Europa! A violência masculina contra mulheres e raparigas é uma violação grave dos direitos fundamentais da EU. A decisão tomada pelo Conselho da UE de avançar para a ratificação da Convenção de Istambul é essencial à segurança e proteção de todas as mulheres e raparigas em todos os Estados-Membros da UE. Queremos viver numa Europa livre de violência!

Ana Sofia Fernandes, Presidente da PpDM

Esta decisão histórica é mais uma mensagem forte de que a UE se preocupa, de que as mulheres são levadas a sério e de que a violência contra as mulheres e raparigas não é um assunto privado, mas sim uma questão estrutural enraizada no patriarcado e no sexismo. A mensagem que a UE transmitiu é que os direitos das mulheres são direitos humanos fundamentais, que estão no cerne do projeto da UE e que, por conseguinte, todas as formas de violência contra as mulheres e as raparigas devem acabar. Obrigada a todas as pessoas envolvidas, aos parceiros da Coligação Europeia para pôr fim à violência contra as mulheres e, em particular, às e aos líderes políticos.

Reka Safrany, Presidente do LEM

A PpDM e o LEM felicitam a Presidência sueca pela coragem política de tornar a adesão da UE à Convenção de Istambul uma realidade, após tantos anos de bloqueio político inadmissível. Louvamos a forte liderança política do Parlamento Europeu ao longo destes anos difíceis[i], especialmente à relatora, a deputada Arba Kokalari (Suécia, PPE, Comissão FEMM) e ao relator, o deputado Łukasz Kohut (Polónia, S&D, Comissão LIBE), que conduziram a esta votação histórica na sessão plenária de 10 de Maio.

A PpDM e o LEM felicitam igualmente a Comissária da UE para a Igualdade, Helena Dalli, e a Presidente Ursula von der Leyen, por terem cumprido a sua promessa e por terem dado seguimento a esta questão, bem como pelo seu empenho no desenho de instrumentos legais, e agradece a dedicação de todos os serviços da Comissão envolvidos[ii]. O sucesso destes avanços demonstra que as mulheres líderes políticas empenhadas na defesa dos direitos das mulheres fazem efetivamente a diferença e que, sempre que há vontade política, há um caminho a seguir.

Apelamos a todas e todos líderes, especialmente ao nível dos Estados-Membros, para que mostrem a mesma coragem para adotar uma diretiva sólida sobre a violência contra as mulheres e a violência doméstica, que será crucial para a implementação da Convenção de Istambul. Estes dois instrumentos devem ser vistos como complementares para acabar com todas as formas de violência masculina contra as mulheres e as raparigas na Europa.

Mary Collins, Secretária-Geral em exercício do LEM

Esta é uma conquista coletiva que deve ser celebrada. Nos últimos 8 anos, as organizações de direitos das mulheres têm vindo a trabalhar e a fazer campanha, pedindo incessantemente para que a UE ratifique a Convenção, o instrumento mais abrangente de que dispomos até à data para combater a violência contra as mulheres e raparigas de forma adequada. A Convenção reconhece as dimensões estruturais da violência e dá resposta às necessidades específicas das sobreviventes de violência contra as mulheres e de violência doméstica: a intimidação de que são alvo, o elevado risco de retaliação, a vitimização repetida e o risco para as suas vidas. A Convenção de Istambul disponibiliza um amplo conjunto de medidas abrangentes que – se aplicadas corretamente – salvarão a vida de muitas mulheres e raparigas.

Pela primeira vez, a UE comprometer-se-à a adotar um conjunto de medidas vinculativas para combater a violência contra as mulheres e as raparigas, monitorizando a sua aplicação através de uma recolha sistemática e uniformizada de dados e de relatórios periódicos. A adesão da UE  à Convenção de Istambul contribui para garantir que, em toda a Europa, as mulheres e as raparigas tenham o mesmo nível de direitos e de proteção, independentemente do local onde vivam. Esta é uma oportunidade para todos os Estados-Membros da UE se comprometerem com um quadro jurídico comum para combater a violência contra as mulheres. A ratificação da Convenção de Istambul pela UE desempenhará um “papel unificador”, como referiu a Comissária para a Igualdade, Helena Dalli, no seu discurso.

Para que tal se torne efetivo, são necessários instrumentos jurídicos concretos. É por isso que a PpDM e o LEM acolheram com grande satisfação a proposta da Comissão Europeia de uma diretiva europeia relativa ao combate à violência contra as mulheres e à violência doméstica. A proposta da Comissão foi, desde logo, uma excelente base para a negociação, uma vez que propôs a harmonização das definições de crimes relacionados com a exploração sexual, incluindo a violência sexual e a violência online, bem como medidas concretas para dar resposta às necessidades específicas das sobreviventes de violência e para garantir o seu acesso à justiça.

Apelamos agora a todas e todos os líderes da UE para que continuem a fazer a diferença, transformando os compromissos em ações concretas, nomeadamente adotando e reforçando rapidamente uma diretiva sólida relativa ao combate à violência contra as mulheres e à violência doméstica. Sabemos que a proposta de diretiva conta com uma maioria sólida entre os Estados-Membros, mas lamentamos profundamente que a proposta apresentada pela Comissão Europeia em Março de 2022 tenha vindo a ser diluída pelos Estados-Membros em muitos aspetos cruciais como os crimes de violação e de exploração sexual.

#Violação

Os Estados-Membros decidiram deixar de fora uma parte fundamental da diretiva: a criminalização da violação como forma de exploração sexual. Esta opção política é absolutamente inaceitável para as organizações de mulheres. O Conselho tem de reconhecer que a violação é um crime que está no cerne da violação dos direitos fundamentais das mulheres, sistematicamente utilizado para silenciar as mulheres em toda a Europa. Esta decisão é lamentável, não só porque existe uma base jurídica suficiente para a UE legislar sobre esta matéria, mas também porque existe uma necessidade urgente de combater a violação numa base comum, o que claramente não é o caso neste momento.

Réka Sáfrány, Presidente do LEM.

As sobreviventes de violação não têm o mesmo nível de proteção em toda a Europa, uma vez que as definições do crime variam muito nos 27 Estados-membros[iii]. Muitos países ainda não dispõem de definições adequadas baseadas na noção de consentimento livremente dado, continuando a manter a dimensão forçada e não disponibilizando uma proteção adequada às sobreviventes[iv]. Neste contexto, apenas um pequeno número de mulheres se sente segura para denunciar e pedir ajuda[v] e, por conseguinte, a grande maioria dos crimes sexuais continua silenciado. E para aquelas que denunciam, existem demasiados obstáculos: conhecemos demasiados casos de mulheres que são revitimizadas e humilhadas durante os processos de investigação criminal, que são culpabilizadas e obrigadas a demonstrar o quanto resistiram ao crime, e que são julgadas com base em estereótipos sexistas e em visões morais sobre a sexualidade das mulheres.

É inadmissível que em pleno século XXI ainda existam países onde a violação abjeta de mulheres e raparigas seja considerado como um crime menor, onde a culpa recaí sobre as vítimas e não sobre os violadores! Numa região que se pauta pela consagração plena dos direitos humanos e por direitos fundamentais como a igualdade entre mulheres e homens (art.º 23º da Carta dos Direitos Fundamentais da UE), enquanto feministas e mulheres, não podemos baixar os braços e aceitar a diluição da proposta de diretiva da CE relativa ao combate à violência contra as mulheres. Há crimes muito violentos que têm de constar na diretiva; tal é o caso da violação e da exploração sexual no sistema de prostituição!

Ana Sofia Fernandes, Presidente da PpDM

Não aceitaremos isto! Os nossos membros do LEM estão amplamente mobilizados, contactando as e os líderes políticos e tomando medidas em toda a Europa para obter uma diretiva sólida que criminalize todas as formas de exploração sexual e reprodutiva das mulheres, incluindo a violação e a prostituição, e todas as formas de violência online contra mulheres e raparigas. Apelamos também ao estabelecimento de normas mais rigorosas para os mecanismos de apoio especializados destinados a proteger as vítimas e a garantir o seu acesso à justiça e à reparação.

Mary Collins, Secretária-Geral em exercício do LEM

#Exploração sexual – sistema de prostituição

#Conselho Justiça e Assuntos Internos | 8 e 9 de Junho

Uma abordagem ampla por parte do Conselho sobre a diretiva será definitivamente adotada na reunião do Conselho de Justiça e Assuntos Internos, a 8 e 9 de Junho. Quando o Conselho se reunir na próxima semana, que qualquer um dos Estados-Membros se sinta envergonhado por concordar em recuar ou em diluir esta diretiva, que exige uma maioria qualificada para ser adotada.

Estamos confiantes de que o Parlamento Europeu adotará uma proposta forte e abrangente para melhorar o texto da diretiva – graças à determinação das duas relatoras, a deputada Francis Fitzgerald (Irlanda, PPE, Comissão FEMM) e a deputada Evin Incir (Suécia, S&D, Comissão LIBE). Contamos com a disponibilidade da Presidência espanhola para introduzir melhorias na atual proposta do Conselho durante as negociações do trio.

Pedimos a todas as instituições da UE que não desiludam as sobreviventes: as mulheres e as raparigas que vivem na UE estão hoje a contar convosco!

Também tu podes fazer a diferença! exercendo pressão para pôr termo – de uma vez por todas – à violência contra as mulheres e as raparigas na UE, incluindo todas as formas de exploração sexual e de violência online. Junta a tua voz, assinando aqui a petição.

Para mais informação, contactar Alexandra Silva, perita da PpDM no Observatório do LEM contra a Violência contra as Mulheres: alexandra.silva@plataformamulheres.org.pt

#IstanbulConvention #ConvençãodeIstambul #FimàViolênciaContraMulheres

#TribunaFeminista #bE_SAFE


[i] Na anterior legislatura do PE, as relatoras foram Anna-Maria Corazza-Bildt (PPE, Suécia) e Christine Revault D’Allonnes Bonnefoy (S&D, França).

[ii] Reconhecemos, em particular, o trabalho árduo realizado pela Unidade para a Igualdade de Género da DG Justiça da Comissão Europeia.

[iii] Sara de Vido e Lorena Sosa (2021) , Criminalisation of gender-based violence against women in European states, including ICT-facilitated violence, publicado pela rede europeia de peritas jurídicas em igualdade de género e não discriminação.

[iv] Conselho da Europa (2022), Mid-term Horizontal Review of GREVIO baseline evaluation reports.

[v] De acordo com a Agência para os Direitos Fundamentais da União Europeia (FRA), apenas 22% das mulheres vítimas de violência em relações de intimidade apresenta queixa às forças de segurança (FRA, Crime, segurança e direitos das vítimas – Inquérito sobre os direitos fundamentais, 2021)

3 comentários em “Decisão histórica do Conselho sobre a adesão da UE à Convenção de Istambul!”

  1. Caros Dirigentes,
    Todas as diligências que forem feitas no sentido de eliminar todas as formas de violência de género será uma vitória! Da mesma forma, se deve ter em conta os direitos humanos, dando o maior relevo aos direitos das mulheres e das raparigas, contra a exploração sexual. As vantagens dessas medidas contribuem para ao eliminar os aspectos nefastos verificados nas sociedades e tornar o funcionamento das relações humanas entre os homens e mulheres mais equilibrada.
    Cumprimentos.
    Maria José Lima

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  2. É importante ressaltar que a ratificação da Convenção de Istambul é apenas o primeiro passo. A implementação efetiva das medidas previstas na Convenção exige o comprometimento contínuo dos governos, bem como a participação ativa da sociedade civil e de todos os setores da comunidade. No entanto, a UE ao ratificar a Convenção, demonstra a sua determinação em combater a violência de género e proteger os direitos das mulheres.

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