Conferência e manifestação em Bruxelas com Gloria Steinem

Quebrando a corrente de violência contra as mulheres e raparigas na Europa: as organizações de mulheres exigem “revolução e não reforma”.

20 anos ruidosas e unidas[1]. Hoje em Bruxelas, o Lobby Europeu das Mulheres (LEM) organiza uma conferência internacional e uma manifestação que reúne mais de 350 especialistas, profissionais, decisores/as, defensoras/es dos direitos das mulheres e ativistas de toda a Europa.

Estas iniciativas assinalam os 20 anos de ação do Observatório do LEM sobre Violência Contra as Mulheres e Raparigas, uma rede única que tem desempenhado um papel fundamental no aconselhamento do LEM sobre a realidade da violência contra as mulheres na União Europeia (UE) e na argumentação das suas mensagens e exigências.

O Observatório foi criado em 1997 para monitorizar os compromissos assumidos pelos Estados-membros da UE após a Conferência de Pequim sobre os direitos das mulheres em 1995. Como órgão político, o Observatório do LEM garante que a Violência contra as Mulheres e as Raparigas ocupa um lugar importante na agenda política e que os decisores são responsabilizados pelos seus compromissos. Foi graças ao seu Observatório que o LEM difundiu os primeiros dados europeus sobre violência doméstica em 1999.

Estamos ainda longe de uma Europa onde todas as mulheres e raparigas possam viver uma vida livre de violência. 1 em cada 3 mulheres é vítima de violência masculina ao longo da sua vida. 50 mulheres morrem todos os dias na Europa. Um homem viola uma mulher a cada 8 minutos. Mulheres e raparigas estão capturadas pelos mercados de prostituição, são vítimas de mutilações genitais femininas e enfrentam assédio de rua todos os dias. Todas as formas de violência contra mulheres e raparigas têm o mesmo objetivo: silenciar as mulheres, mantê-las num lugar subordinado e perpetuar papéis hierárquicos entre mulheres e homens“, explica Edith Schratzberger-Vecsei, presidente do LEM.

Mudança real, não apenas uma reforma. 20 anos após a criação do Observatório, os membros da LEM saúdam a iniciativa da Comissão Europeia que elege 2017 como “Ano da União Europeia Centrado na Acão para a Eliminação da Violência Contra Mulheres e Raparigas. É importante que a União Europeia esteja pronta para aderir à Convenção de Istambul: a Convenção de 2011 do Conselho da Europa que é o primeiro tratado juridicamente vinculativo na Europa que criminaliza as diferentes formas de violência contra as mulheres e a violência doméstica.

Embora reconheçamos esse progresso, hoje desafiamos a Europa a ratificar e a implementar a Convenção de Istambul e a comprometer-se com os seus objetivos, ao mesmo tempo que reconhece e utiliza a experiência das organizações de mulheres. A violência contra mulheres e raparigas acontece todos os dias, em todos os lugares. É uma questão europeia, que exige uma resposta europeia. E esta resposta não pode ser apenas uma reforma, é necessário que traga mudanças reais“, diz Iliana Balabanova-Stoicheva, vice-presidente da LEM.

É por isso que a presente iniciativa do LEM convida representantes das diferentes instituições europeias a expor o modo como se comprometem a abordar diretamente a violência masculina e a integrar (mainstream) a questão e o seu impacto em todas as áreas políticas europeias:

  • Monika Ladmanova, Conselheira para a Igualdade de Género da Comissária para a Justiça, Consumidores e Igualdade de Género, Věra Jourová
  • Revault d’Allonnes-Bonnefoy, Deputada Europeia, França, Membro da Comissão das Liberdades Cívicas, da Justiça e dos Assuntos Internos (LIBE)
  • Corazza Bildt, Deputada Europeia, Suécia, Membro da Comissão dos Direitos das Mulheres e da Igualdade de Género (FEMM)
  • Antonella Gatt, Presidente do Grupo de Trabalho sobre Questões Sociais (Política Social), Presidência Maltesa da UE
  • Rait Kuuse, Secretário-Geral Adjunto para a Política Social, Ministério da Proteção Social, Estónia
  • Marja Ruotanen, Responsável pela Direção para a Dignidade Humana e a Igualdade do Conselho da Europa

As organizações de mulheres no centro da mudança. Para o LEM, uma organização com 25 anos que reúne associações de mulheres de toda a Europa, os resultados atingidos não teriam sido possíveis sem o trabalho das organizações de mulheres e sem a coragem de vítimas e sobreviventes para falarem e romperem o silêncio em torno da violência Contra Mulheres e Raparigas.

O poder das organizações de mulheres que apoiam as sobreviventes e que promovem campanhas para a mudança será visível através das intervenções de várias ativistas que apresentam iniciativas com impacto, tais como o trabalho que contribui para o apoio quotidiano providenciado pelos centros de violência sexual ou casas-abrigo, os projetos artísticos inovadores que visam sensibilizar sobre a exploração sexual ou o tribunal das mulheres que traz para a esfera pública as vozes das mulheres e das raparigas.

“Não é verdade que não falamos. A realidade é que nossas vozes não são ouvidas e não são valorizadas igualmente. É por isso que a violência contra as mulheres é uma questão política. Somente aqueles que querem manter as desigualdades e a injustiça de género têm algo a perder quando a violência masculina é abolida e as mentalidades mudam “, diz Fiona Broadfoot, sobrevivente do comércio sexual e fundadora do projeto liderado por sobreviventes, Build A Girl, no Reino Unido.

Homenagem à resiliência, à força e à solidariedade, com a ícone feminista Gloria Steinem. A ativista feminista reconhecida mundialmente Gloria Steinem junta-se a esta iniciativa do LEM e à manifestação. Em conjunto com 350 participantes de toda a UE e organizações belgas de mulheres, ela marchará pelas ruas de Bruxelas para exigir ações reais e mudanças reais. Este momento de solidariedade envia um sinal importante à União Europeia sobre o compromisso do movimento das mulheres de continuar a defender uma Europa livre de todas as formas de violência masculina contra mulheres e raparigas.

“Mais do que a pobreza, os recursos naturais, a religião ou o grau de democracia, a violência contra as mulheres é o indicador mais confiável para se saber se uma nação será violenta em si mesma ou se usará a violência contra outro país – e a violência de género tornou-se tão grande que, pela primeira vez, há hoje menos mulheres na terra do que homens”, diz Gloria Steinem.

“A violência contra mulheres e raparigas não é acidental, é estrutural. Depende de todos nós. Continuemos a interromper o silêncio e a indiferença! E pensemos sempre na última rapariga, se queremos realmente acabar com a violência masculina e implantar a justiça de género”, diz Edith Schratzberger-Vecsei, enquanto as manifestantes levantam a mão e compartilham slogans e músicas sob o lema Loud & United (Ruidosas e Unidas)

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O Lobby Europeu das Mulheres (LEM) é a maior plataforma de associações de mulheres na União Europeia (UE) que trabalha para promover os direitos das mulheres e a igualdade entre mulheres e homens. A adesão ao LEM estende-se a organizações de todos os 28 Estados-membros da UE e dos 3 países candidatos, bem como a 20 estruturas europeias, representando um total de mais de 2000 organizações. Por uma Europa feminista.

Www.womenlobby.org             @EuropeanWomen              Seguir através das redes sociais #LoudUnited

Exigências políticas do LEM

  • O reconhecimento, pela UE e pelos seus Estados-membros, de que todas as formas de violência masculina contra as mulheres fazem parte de um contínuo de violência contra as mulheres, porque são mulheres;
  • A ratificação e implementação pela UE e todos os seus Estados-membros da Convenção de Istambul;
  • Uma estratégia e uma diretiva da UE que criminalizem todas as formas de violência masculina contra mulheres e raparigas e prestem assistência e apoio a todas as vítimas mulheres e raparigas;
  • Um coordenador da UE para a eliminação da violência contra mulheres e raparigas, no âmbito do trabalho da Comissão Europeia sobre a igualdade entre mulheres e homens
  • A consulta sistemática e o financiamento sustentável das organizações de mulheres que prestam apoio às vítimas mulheres e raparigas e que desenvolvem campanhas de influência e sensibilização aos níveis da UE, nacional e local.

Recursos adicionais:

  1. NOVO! Factsheet Disrupting the continuum of violence against women and girls.
  2. EWL Observatory on Violence against Women http://www.womenlobby.org/-ewl-observatory-on-violence-?lang=en e 2016 factsheet on Violence against Women in Europe
  3. Petition to the Council of EU Justice Ministers together with WeMove

Para mais informações, entrevistas, materiais de fundo ou audiovisuais, por favor contactar:

Elvira Buijink, Responsável do LEM pela Comunicação e Media.

Em Portugal contactar:

Coordenação Portuguesa do Lobby Europeu das Mulheres, Plataforma Portuguesa para os Direitos das Mulheres, Tel.: +351 21 362 60 49; plataforma@plataformamulheres.org.pt ;

Membro Português do Conselho de Administração do Lobby Europeu das Mulheres, Ana Sofia Fernandes, +351 961267927, sofia.fernandes@plataformamulheres.org.pt;

Perita portuguesa no Observatório Contra a Violência sobre as Mulheres do Lobby Europeu das Mulheres, Isabel Ventura; plataforma@plataformamulheres.org.pt;

Presidente da Plataforma Portuguesa para os Direitos das Mulheres, Alexandra Silva; +351 914623171; alexandra.silva@plataformamulheres.org.pt.

Organizado conjuntamente pelas seguintes organizações de mulheres da Bélgica: Vrouwenraad, Conselho das Mulheres Francófonas da Bélgica e Marcha Mundial da Mulheres.

Financiado pela Comissão Europeia, Kering Foundation, NOVO Foundation, Google. Com o apoio da Cidade de Bruxelas

[1] Referência à campanha Loud & United.

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