Cinco anos de prisão para “Rei-dos-Bordéis” de Estugarda e o testemunho de uma sobrevivente da prostituição alemã

No passado dia 27 de fevereiro de 2019, fez-se história na Alemanha, com a prisão do dono de bordel mais conhecido naquele país, Jürgen Rudloff, conforme se pode ler neste artigo, no original, em alemão. Pela importância desta notícia, e porque infelizmente ela não chegou aos media portugueses, a Plataforma Portuguesa para os Direitos das Mulheres achou por bem fazer uma tradução não oficial, que aqui se reproduz. Esperamos que este gesto contribua para clarificar o inferno que vivem as mulheres no sistema da prostituição naquele país, que legalizou a prostituição como um negócio e um trabalho “como outro qualquer”.

Cinco anos de prisão para “Rei-dos-Bordéis” de Estugarda

O dono de bordel mais conhecido na Alemanha, Jürgen Rudloff, foi condenado a cinco anos de prisão e um milhão de euros de multa por crime de tráfico de seres humanos, prostituição forçada e fraude, tal como foi relatado por vários canais de media. Um dos seus colaboradores foi condenado a três anos e três meses de prisão, e outro réu ficou em liberdade condicional.

Foram detidos os responsáveis de bordel mais conhecidos da Alemanha: o “manda-chuva”, Jürgen Rudloff de Stuttgart, foi condenado a cinco anos de prisão e ao pagamento de uma multa de 1,3 milhões de euros.
O condenado, de 65 anos, conhecido como “Rei-dos-Bordéis” e cuja aparência em tribunal deu nas vistas – fato requintado, camisa branca aberta, e os cabelos grisalhos penteados para trás – não tem medo da exposição pública, pelo contrário.
No passado, Rudloff promoveu agressivamente por uma prostituição “limpa”. Com o seu conceito de “oásis de bem-estar para homens”, pretendia pegar na indústria da “red-light” de esquina decadente e revolucioná-la. Para ele, os habituais efeitos colaterais desta atividade – como a prostituição forçada e a exploração – não deveriam desempenhar nenhum papel.
A realidade era diferente.

Mega operação policial ao império da “red-light” de Jürgen Rudloff

Em 30 de novembro de 2014, quase 1.000 funcionários numa mega operação policial invadiram o império erótico de Rudloff. Este inclui o clube de nudismo “Paradise” em Leinfelden-Echterdingen, perto de Estugarda, e também “templos de sexo” em Graz, Frankfurt e Saarbrücken.
No final, os documentos descobertos encheram 175 pastas da “Leitz” (*) e acabaram numa acusação. As principais alegações contra Rudloff incluíam: promoção do tráfico humano pesado, exploração de prostitutas, prostituição e fraude. Ontem Rudloff foi condenado pelo Tribunal Regional de Estugarda.

Motoqueiros detinham o poder nos templos do sexo

De acordo com a convicção do tribunal, as mulheres nos “palácios de Eros” de Rudloff eram forçadas, exploradas e espancadas. Nas casas, governavam os motoqueiros brutais de Hells Angels e United Tribunes. As mulheres na prostituição tinham que ter os nomes dos seus chulos tatuados numa grande área dos seus corpos. Aquelas que não alinharam foram ameaçadas (“eu cortei o seu rosto com a faca do tapete”) ou espancadas.
Uma mulher completamente assustada sussurrou, numa operação de controlo policial na estrada, na orelha de um dos oficiais: “Tirem-me daqui!”

Rudloff prometeu aos credores um retorno de até 10%

Além disso, Rudloff defraudou ardilosamente investidores e credores, com uma espécie de esquema de pirâmide, em cerca de 3,1 milhões de euros. Oficialmente, ele dizia arrecadar o dinheiro para mais projetos de mega-Bordéis e prometia aos investidores um fantástico retorno de 10%. Na verdade, estavam a financiar a sua vida de luxo.
Entre os investidores entusiastas que, no fim, ficaram de “mãos a abanar”, também estava um certo Willi Weber, ex-manager da lenda da Fórmula 1, Michael Schumacher, que terá perdido numa empresa, que geria com a sua esposa e filha, 500.000 euros. Weber e Rudloff têm mais de 20 anos de amizade.

Chefe de marketing deve ser detido por três anos

Para além do Papa da “red-light” Rudloff, o tribunal condenou igualmente o chefe de marketing do clube “Paradise”, Michael B, que ganhou uma reputação duvidosa em toda a Alemanha por ter trabalhado para um canal privado de TV como “tester” de bordéis. Michael B. admitiu em tribunal que sabia das nefastas interações entre os motoqueiros e as mulheres na prostituição e que não tinha feito nada porque estava interessado no sucesso comercial do bordel. Michael B. admitiu ainda que o seu comportamento tornou possível que crimes graves fossem cometidos contra várias mulheres.
Um consultor fiscal do Rudloff foi condenado a uma pena suspensa de um ano e quatro meses por cumplicidade no crime de fraude.

(*) N.T. – Leitz é uma marca alemã de material de escritório

Em conjunto com a leitura desta notícia, sugerimos vivamente a leitura de um artigo de Huschke Mau, sobrevivente do sistema da prostituição na Alemanha (em inglês): Sex Industry ‘Why I’m sick of calls for full decriminalisation of prostitution’. The left needs a reality check when it comes to so-called ‘sex work,’ says HUSCHKE MAU, survivor of 10 years in prostitution, [pdf] e que esteve em Portugal em setembro de 2018 na Conferência internacional abolicionista EXIT: Sistema da Prostituição.

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