A desigualdade revelada nos usos desiguais do tempo e o quanto vivemos enganadas
Em Portugal, 2016, as mulheres trabalham em média por dia 14h47m e os homens 13h10m. Estes são os usos que mulheres e homens dão ao tempo diário, distribuído entre trabalho pago e trabalho não pago (trabalho doméstico e prestação de cuidados). Em 1999, as mulheres trabalhavam em média por dia 12h49m e os homens 10h56m (Perista, H. (2002), Género e trabalho não pago: o tempo das mulheres e o tempo dos homens, Análise Social, vol. XXXVII (163), 2002, 447-474).
Esbateu-se a diferença em 16m por dia de 1999 (1h53m a menos para os homens) para 2016 (1h37m a menos para os homens).* Reformulando a frase, em 17 anos a diferença da sobrecarga de trabalho entre mulheres e homens esbateu-se em menos de 1 minuto por ano… É a esta velocidade que queremos que o recurso tempo seja idêntico para as mulheres e para os homens?
Importa também trazer à luz do dia de que essa diferença se esbate não porque o número de horas de trabalho (pago e não pago) tenha diminuído para as mulheres, muito pelo contrário – aumentou! Em 1999 as mulheres trabalhavam em média por dia 7h49 de forma paga e 5h de forma não paga; em 2016, as mulheres trabalham 8h35 de forma paga e 6h12m de forma não paga; já os homens trabalhavam em 1999 9h02m de forma paga e 1h54m de form não paga, e em 2016 trabalham 9h02m de forma paga e 4h08m de forma não paga. Bom, as mulheres aumentaram o uso do tempo no espaço público e os homens no espaço privado… mas com que velocidade foi isso conseguido? e com que canseira?
Vivemos, pois, enganadas! Vivemos iludidas numa suposta igualdade… Até quando queremos aguentar?!
Aconteceu ontem, na Conferência final do Projeto Inquérito Nacional aos Usos do Tempo, promovido pelo CESIS – Centro de Estudos para a Intervenção Social, e pela CITE – Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego
*Cálculos próprios com base nos resultados apresentados